O professor de mecânica Luciano dos Reis, de 45 anos, quer usar o conhecimento em engenharia para contribuir com o combate à pandemia de coronavírus. Ele está consertando gratuitamente respiradores de hospitais em Batatais (SP) e compartilhando instruções para que outras pessoas possam fazer o mesmo em outras cidades.
"Não há dinheiro que pague o trabalho que a gente faz. Não é um trabalho forçado. É de coração. A gente não espera nada em troca, a não ser uma oração, um 'muito obrigado' e saber que o próximo vai estar bem no dia de amanhã", diz.
Dono de uma empresa de usinagem, Luciano teve a ideia de duplicar peças de respiradores com impressoras 3D na tentativa de criar um protótipo de baixo custo para suprir a demanda dos hospitais. Em visita aos centros de saúde, no entanto, ele descobriu que havia aparelhos quebrados e decidiu consertá-los.
Segundo o professor, um dos principais problemas dos respiradores são as válvulas que controlam a distribuição de oxigênio e a retirada do gás carbônico do paciente. A membrana das válvulas se rompem e, com isso, o aparelho não consegue oferecer a quantidade necessária de oxigênio.
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Batatais, havia cinco válvulas com membranas rompidas, de acordo com Luciano. Em outros hospitais, eram 20. Todas foram recuperadas. Cada uma pode custar até R$ 2,8 mil, o que inviabiliza a compra de novas peças.
"Fiz o desenho [da válvula], mandei cortar em laser e deu certo. Eles não tiveram mais que chamar a assistência técnica", relata. "Eu faço com R$ 10, R$ 20, em cinco minutos."
Solidariedade
Luciano expandiu o atendimento para além de Batatais nas últimas semanas e começou a ajudar outras instituições. No momento, ele está consertando um respirador de uma casa de recuperação para dependentes químicos de Ribeirão Preto (SP).
O professor não quer que a iniciativa se restrinja à região. Ciente da demanda dos hospitais pelos respiradores, que são essenciais no tratamento de pacientes com sintomas graves de coronavírus, Luciano começou a compartilhar instruções de como realizar o conserto.
O professor diz que recebeu mensagens de voluntários de Brasília (DF), São Carlos (SP) e até do Chile, que viram posts dele nas redes sociais e entraram em contato pedindo ajuda. Por telefone ou vídeo-chamada, o professor faz orientações à distância e compartilha o molde de corte das válvulas.
Doações
Além do conserto de respiradores, Luciano mobilizou oito amigos professores, empresários e trabalhadores autônomos em prol da caridade, com doações para 12 cidades da região.
Até o momento, o grupo doou um corredor de desinfecção, cerca de 15 mil máscaras de tecido, 4,5 mil máscaras de acetato, 1,3 mil gorros e 200 aventais de TNT para moradores e profissionais da saúde.
Para viabilizar o trabalho, os voluntários arrecadam doações em Batatais e na internet por meio de uma vaquinha. O dinheiro é utilizado na compra de tecidos, acetado e também no custeio da mão-de-obra das 12 costureiras contratadas para produzir os materiais.
"A gente ajuda elas, que estão sem costura, com as vendas paradas, e ajuda a população e os profissionais de saúde", diz.
Enquanto o vírus estiver circulando, Luciano diz que estará pronto para ajudar. Além dos respiradores e dos materiais de higiene, o professor planeja construir e doar túneis de higienização com o dinheiro arrecadado a partir da vaquinha na internet.
"Só quero o bem do próximo e mais nada. As orações feitas para gente já são o bastante para seguirmos na caminhada", diz. "Amanhã quem pode estar precisando sou eu, e sei que também vou encontrar ajuda."
Fonte:Pedro Martins*, G1 Ribeirão Preto e Franca