O professor Carlos Alberto Decotelli não é mais ministro da Educação. Ele encontrou o presidente Jair Bolsonaro na tarde desta terça-feira e pediu demissão. O ex-ministro conversou com Bolsonaro, que aceitou o pedido. Decotelli teve uma passagem relâmpago pelo MEC, ficando no cargo menos de uma semana. A repercussão de informações falsas incluídas em seu currículo e a acusação de plágio em sua dissertação de mestrado tornaram sua permanência no cargo insustentável.


Anderson Correia, ex-presidente da Capes e atual reitor do ITA, é um dos nomes que ganhou força, nesta terça-feira, para ocupar o posto deixado por Decotelli. Além da decisão do presidente, o atual reitor do ITA aguardaria também um aval do Ministério da Defesa para deixar seu cargo no ITA e comandar o MEC.


No final da tarde de segunda-feira, o ex-ministro se reuniu com o presidente e, após a conversa, disse que continuava no cargo. Apesar disso, desde ontem, Bolsonaro estudava nomes para substituí-lo. A situação de Decotelli ficou ainda mais crítica com a divulgação de uma nota pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) negando que ele tenha sido professor das escolas da instituição. Segundo a fundação, ele atuou como professor colaborador "apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos".


Em entrevista à CNN, nesta tarde, Decotelli confirmou a informação antecipada pelo GLOBO de que a nota divulgada pela FGV pesou na decisão do presidente.


— O projeto foi questionado pela minha inconsistência curricular. Inconsistências estas que no mundo acadêmico são explicáveis, são citações. Mas a destruição da continuidade veio pelo fato da construção fake da Fundação Getúlio Vargas divulgar que eu nunca fui professor da FGV —  afirmou Decotelli. —  Esta informação divulgada pela FGV, fez com que o presidente me chamasse e dissesse 'se até a Fundação Getúlio Vargas, onde o senhor trabalha há 40 anos ministrando curso para seus alunos e tem seu nome impresso no certificado, está negando que o senhor é professor, então é impossível o governo continuar sendo questionado sobre as inconsistências no seu currículo.'


Nesta terça-feira, os nomes de Sergio Sant'Ana, ex-assessor de Weintraub, e Ilona Becskeházy, atual secretária de Educação Básica, também continuam circulando como opções para substituir o ministro. Ambos têm o apoio da ala olavista do governo. Além deles, na tarde desta terça, o nome de Gilberto Garcia também começou a circular como opção. Garcia é frei franciscano e já foi membro do Conselho Nacional de Educação (CNE). O professor teria sido indicado por Antônio Veronezi, empresário do setor privado e próximo a Onyx Lorenzoni e ao ex-ministro Abraham Weintraub.


Outros nomes também estão entre os cotados para o MEC: Antônio Freitas, membro do CNE; Marcus Vinícius Rodrigues, ex-presidente do Inep; Benedito Aguiar, atual presidente da Capes.


Polêmicas

Após o anúncio de seu nome ser bem recebido dentro e fora do governo, Decotelli passou a ter o currículo na plataforma Lattes, que ele próprio publica, questionado.


O doutorado pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, usado por Bolsonaro ao anunciar o novo ministro, foi desmentido pelo reitor da instituição, Franco Bartolacci. Depois, Decotelli foi acusado de plagiar sua dissertação de mestrado.


Ontem, outra distorção no currículo veio à tona. Mesmo sem ter doutorado, continuava constando na plataforma Lattes do ministro um "pós-doutorado" pela  Universidade de Wüppertal. A instituição afirmou que Decotelli fez uma pesquisa na universidade em 2016, por três meses, mas nunca deu qualquer título a ele.


Um pós-doutorado não é um título acadêmico formal, mas é um termo usado em referência apenas a pesquisas feitas após um acadêmico obter um título de doutor — o que Decotelli não tem.


Nesta terça-feira, a Fundação Getulio Vargas (FGV) também evidenciou outro ponto polêmico do currículo de Decotelli.


A instituição disse que ele nunca foi professor efetivo da instituição, mas sim colaborador em cursos de educação continuada.


No currículo Lattes, ele menciona ter sido professor da FGV, sinalizando um vínculo efetivo, o que é questionável, em termos de transparência, uma vez que há outras nomenclaturas para indicar tal atuação.


Fonte:O Globo

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