O estudo da UFPR que confirmou a presença de coronavírus (covid-19) em dois cães de Curitiba gerou polêmica. O risco de aumento nos casos de abandono pets pelo medo de uma possível transmissão para humanos foi assunto de comentários nas redes sociais, nos últimos dias, assim que a pesquisa foi divulgada. Preocupados com a repercussão negativa, a universidade informou que descarta que cães e gatos transmitam o vírus para seres humanos e que desenvolvam a doença.


Um novo conteúdo foi divulgado pela UFPR na terça-feira (1.º) e traz perguntas e respostas que alertam sobre o crime de abandono dos animais e esclarecem o objetivo da pesquisa: “coletar dados sobre o assunto e subsidiar políticas públicas e decisões tomadas por gestores políticos”.


Segundo a UFPR, os dois casos de coronavírus registrados nos cães foram os primeiros identificados no Brasil. A pesquisa é coordenada por Alexander Biondo, médico veterinário e professor da universidade. O próprio Biondo esclareceu as dúvidas e os comentários mais frequentes da sociedade elencados pela universidade durante a semana.


No conteúdo, o professor destaca que “o fato de cães e gatos poderem se contaminar com Sars-CoV-2 não pode ser justificativa para o abandono de animais. Abandono é crime, caracterizado também como crime ambiental e maus tratos, que recentemente vem sendo considerado ainda mais severo. Lembrando que cães e gatos não adoeçam e não transmitam para humanos”, explicou Biondo.


Perguntas e respostas da UFPR

Os animais domésticos (gatos e cães) podem transmitir o vírus Sars-CoV-2 para humanos? 


Cães e gatos podem ser infectados pelo vírus causador da Covid-19 nos seres humanos. Entretanto, até hoje, entre os milhões de casos que ocorreram nas pessoas ao redor do mundo, não existe nenhum único relato de transmissão do vírus Sars-CoV-2 de cães e gatos para pessoas.


Até agora, após todos esses meses de pandemia, os resultados que temos nos levam a concluir que cães e gatos não participam do ciclo de transmissão do vírus, embora se infectem e possam demonstrar alguns sinais respiratórios ou digestivos, no geral, não se detecta mais o vírus no animal após 3 a 15 dias, dependendo da espécie.


Gatos são um pouco mais suscetíveis e podem transmitir para outros gatos. Em cães não há esse relato. Mas nenhuma das duas espécies transmite para seres humanos.   


A presença do vírus Sars-CoV-2 em animais quer dizer que ele tenha Covid-19? 


O vírus denominado Sars-CoV-2 não é a mesma coisa que a doença. Não há, até o momento, nenhuma doença em espécie animal ocasionada como consequência da infecção do vírus Sars-CoV-2. Temos apenas a Covid-19 que atinge somente seres humanos. Cães e gatos podem ser infectados pelo vírus, mas não desenvolvem doença, eliminando essa infecção viral em poucos dias.


Como os dois cachorros que testaram positivo adquiriram o vírus?


Fizemos a quantificação viral dos tutores, que estavam com Covid-19, e de seus cães. Concluímos que foram os tutores que transmitiram o vírus para os animais,  pois a quantidade de vírus nas pessoas era bem maior. Os dois cães que positivaram tinham um histórico de dormir na cama com seus tutores, alto contato, lambidas e beijos e esse é o motivo que levou à infecção.


A agenda de vacinação de animais domésticos contempla vacinas contra uma espécie de coronavírus. Esse coronavírus é o mesmo do que o que causa Covid-19? 


Não. São vírus diferentes, apesar de serem da mesma família. Da mesma forma, espécies distintas do vírus influenza causaram a gripe aviária e a gripe suína.


O Sars-CoV-2, originado em Wuhan na China, e depois causador da pandemia é diferente daquele já conhecido que acomete o sistema digestivo dos cães e está contemplado na agenda de vacinação.


Esse tipo de coronavírus que possui a vacina animal não é tão infeccioso, mas se associado com outros vírus causadores de problemas entéricos, como o parvovírus, pode levar a sinais clínicos bem graves e até a morte do animal.


Então essa vacina canina NÃO confere imunidade para o novo coronavírus (Sars-CoV-2), que pode infectá-los sem causar sinais clínicos e de forma transitória.


Apesar de cães e gatos não desenvolverem a doença, os tutores contaminados devem adotar medidas de prevenção também com relação a eles. Quais cuidados os tutores contaminados devem ter com animais de companhia?


É o mesmo cuidado devem ter em casa, com familiares e outras pessoas que moram junto, se alguém testar positivo. Os tutores de animais de companhia, uma vez que tenham sido infectados, devem se manter em distanciamento social dos demais seres humanos e animais. O cuidado é evitar beijos, abraços, lambidas e carinhos durante aproximadamente de 15 dias e só quando não houver mais eliminação do vírus por via aerógena, voltar o contato normal.  As pessoas também devem usar máscaras e lavar as mãos ou usar álcool em gel antes de manusear recipientes de comida e caixa de areia.


Qual  a importância de realizar esse estudo, feito pela UFPR, para os dados e as descobertas sobre coronavírus em cães e gatos?


O estudo que estamos fazendo, coordenado pela UFPR mas que  envolve outras universidades e instituições em seis capitais brasileiras, é muito importante porque ajuda os tomadores de decisão, os profissionais dos centros de controle de zoonoses e dos órgãos gestores da saúde a entenderem que os cães e gatos não oferecem riscos de transmissão da doença, ou seja, não são reservatórios da doença.


Na Europa, recentemente foi comprovado que visons estavam sendo infectados com o vírus por humanos e retransmitindo novamente para pessoas. Esse fato resultou até em medidas de eutanásia em massa desses animais em alguns países. 


Por isso é tão importante que esse estudo financiado pelo CNPq e  pelo Ministério da saúde seja desenvolvido no Brasil. Esse é o primeiro estudo desse tipo em um país tropical e primeiro da América Latina, outra pesquisa similar só foi feita na Itália. Com os resultados preliminares, percebemos que cães e gatos não participam do ciclo de transmissão desse vírus. No entanto, animais como visons e outras espécies assemelhadas podem sim se infectar, ter sinais clínicos e transmitir para pessoas. Assim, é fundamental que estudos sejam feitos e auxiliem na tomada de decisões acertadas por parte dos governos.


Fonte: Tribuna do Paraná

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