A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) decidiu fazer chover por conta própria para amenizar a falta de água que atinge o estado desde o fim de 2019. A estatal está testando um sistema em que um avião bombardeia com mais água nuvens já carregadas para induzir precipitações em locais estratégicos.


Em um mês, já foram induzidas dez chuvas nas proximidades dos reservatórios que abastecem Curitiba e região metropolitana, área que mais sofre com a pior estiagem da história do Paraná.


A semeadura de nuvens, como é tecnicamente chamado o processo, é um dos projetos de pesquisa e inovação da Sanepar. A empresa Modclima, que detém a tecnologia com a aeronave adaptada para a formação de precipitação, fechou contrato de sete meses com a companhia no valor de R$ 2,84 milhões. Nesse período, a estatal vai levantar estatísticas da quantidade de chuva produzida em áreas estratégicas para o abastecimento para ter parâmetros na utilização do serviço mais vezes.


Antes de o avião decolar do Aeroporto do Bacacheri, em Curitiba, uma equipe acompanha as condições climáticas. Se forem identificadas nuvens com capacidade para formar uma boa quantidade de chuva nas proximidades dos reservatórios ou da bacia que leva água às barragens, a aeronave decola carregando um reservatório com 300 litros de água potável. A partir de dispositivos instalados em cada asa do avião, gotículas minúsculas são injetadas para que junto com água que já há na nuvem se formem gotas maiores, que caem com o próprio peso em forma de chuva.


A água lançada no regime de turbulência para o interior na nuvem tem padrões técnicos bem criteriosos, com gotas de dimensões controladas. O tamanho das gotículas varia entre 50 a 70 micrometros. São entre 30 e 50 microgotas por centímetro quadrado. O processo é completamente físico, envolvendo os mesmos princípios de termodinâmica e transferência de calor que já ocorrem nas nuvens na formação natural da chuva. “Esse processo é como um empurrãozinho na nuvem para que chova”, ilustra o o gerente de Pesquisa e Inovação da Sanepar, Gustavo Possetti.


Ao contrário de outros tipos de semeadura de nuvens, o que a Sanepar está testando não usa nenhum produto químico. “O interessante nesse sistema é que é uma fonte limpa, com água potável injetada nas nuvens. Optamos por não usar nenhum produto químico nesse processo para não trazer riscos ao abastecimento e ao meio ambiente”, afirma Possetti.


A semeadura de nuvens já foi utilizada pela Sabesp, a companhia de saneamento de São Paulo, na crise hídrica do estado vizinho entre 2014 e 2015. Além disso, é uma técnica utilizada na irrigação na agricultura em áreas que sofrem com a estiagem.


Chuva no lugar certo

Outro ponto essencial no processo, explica o gerente de Pesquisa e Inovação da Sanepar, é que essa indução seja feita em locais estratégicos, que reforcem o sistema de captação de água. “Não adianta criar essa precipitação no Centro de Curitiba, por exemplo”, enfatiza Possetti.


Por isso, o planejamento de cada decolagem do avião é essencial. “Para não causar enchentes, essa precipitação não pode cair em áreas urbanas. Ela tem que ser na região de barragens ou perto das bacias que abastecem nossos reservatórios, que são em áreas distantes das cidades. Nesses lugares é que é interessante que chova bastante”, completa Possetti.


Dá para encher os reservatórios?

Uma pergunta fica com a tecnologia: é possível se induzir chuvas com a aeronave constantemente até que os reservatórios de Curitiba e região metropolitana voltem a ficar completamente cheios? A resposta é não.


Para que as barragens voltem à normalidade seriam necessários quatro meses de chuva constantes e intensas. “Isso não ocorre em lugar nenhum do mundo. Não tem como”, reforça o diretor de Comunicação da Sanepar, Hudson José.


Ou seja, a semeadura de nuvens seria uma ação pontual para reforçar emergencialmente o nível das barragens. Assim como outras que a Sanepar vem executando ao longo da crise hídrica, com captação de água em fontes alternativas como cavas, pedreiras e mesmo de rios que não estão integrados ao sistema.


Nesta sexta-feira (14), o nível das quatro barragens de Curitiba e RMC está em 40,63%. Para que o rodízio no fornecimento termine é preciso que o nível chegue a no mínimo 60%. Se o armazenamento de água cair para apenas 25%, será adotado um rodízio ainda mais severo, de 48 horas sem água por 24 horas com abastecimento. Hoje o rodízio é de 36 horas com abastecimento por 36 horas com água cortada nos bairros.


Fonte: Gazeta do Povo

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