“Você precisa de ajuda?” Foi com essa frase, escrita em uma folha de papel, que a brasileira Flaviane Carvalho ajudou a salvar uma criança de 11 anos que era torturada pelo padrasto nos Estados Unidos.
O caso aconteceu no dia 1º de janeiro na cidade de Orlando, na Flórida, mas só foi divulgado pela polícia local nesta quinta-feira (14). Tanto o homem quanto sua mulher —a mãe da criança agredida— foram presos.
O menino e sua meia-irmã, que tem 4 anos e é filha do casal, estão sob a guarda do Estado até que as autoridades encontrem familiares aptos a cuidar de ambos.
Flaviane é gerente do restaurante Mrs. Potato e estava trabalhando quando o casal foi ao local na primeira noite do ano, acompanhado das duas crianças.
O grupo entrou no restaurante e pediu a refeição, mas, quando a comida chegou, só havia pratos para o casal e a criança menor.
A brasileira, que vive nos Estados Unidos há 14 anos, foi então perguntar se estava tudo certo com o pedido. O padrasto disse apenas que a criança iria comer mais tarde em casa.
Nesse momento, porém, ela notou que o menino tinha um machucado na testa, entre as sobrancelhas, que estava visível mesmo ele estando de máscara, óculos e capuz.
Desconfiada, Flaviane começou a observar a criança e notou que ela tinha uma marca roxa no rosto. Além disso, ao se mexer, eram visíveis hematomas também nos braços. "O instinto materno gritou nessa hora", contou ela à Folha.
A brasileira, que tem duas filhas, pegou uma folha de papel e escreveu um bilhete perguntando se estava tudo bem. Ela se posicionou atrás dos pais, de modo que apenas o menino pudesse vê-la, e levantou o cartaz improvisado. A criança fez apenas um sinal positivo com a cabeça, indicando que sim, estava tudo bem.
Flaviane, porém, continuou achando o episódio estranho e fez um novo cartaz, desta vez perguntando se o garoto precisava de ajuda. Quando a criança novamente fez sinal que sim com a cabeça, a gerente conversou com a dona do restaurante, que também é brasileira, e ligou para a polícia.
"Quando percebi que tinha algo errado, meu sentimento era que precisava fazer alguma coisa. Eu não posso deixar esse menino sair daqui do mesmo jeito que entrou", afirmou.
“Se ela não tivesse nos acionado, o abuso continuaria acontecendo e em breve ele [o menino] não estaria mais aqui entre nós”, disse à Folha a policial responsável pelo caso, Erin Lawler.
O padrasto,Timothy Wilson II, foi preso no próprio dia 1º. Segundo a policial, as investigações mostraram que ele batia na criança, inclusive com um cabo de vassoura, e que o menino estava subnutrido. Ela classificou o caso como tortura e disse que os irmãos mostraram alívio no momento da prisão.
Já a mãe das crianças, Kristen Swann, foi detida cinco dias depois por negligência, já que ela sabia das agressões. A defesa do casal —que perdeu a custódia das crianças— nega as acusações. De acordo com a polícia, a filha mais nova não sofreu agressões.
Para a investigadora, o episódio de Orlando é bem raro, porque em geral apenas pessoas que conhecem as crianças fazem esse tipo de denúncia. “É importante que quem veja um caso assim não pense duas vezes e chame a polícia imediatamente”, completou Lawer, que, assim como muitos nas redes sociais, chamou a brasileira de heroína.
"Foi uma mistura de sentimentos", disse Flaviane. "De nervosismo, de preocupação, de felicidade por ele [o padrasto] ser preso, de curiosidade para saber como a criança está."
Fonte: Folha de São Paulo