Desde o último domingo (18), Israel permitiu que os habitantes do país andassem sem máscara em ambientes abertos. O país já vacinou 80% da população alvo contra a covid-19 com as duas doses do imunizante da Pfizer/BioNTech. O número corresponde a cerca de 5 milhões de pessoas.
Pessoas de todas as idades, a partir dos 16 anos, já puderam ser vacinadas. Agora, Israel se prepara para vacinar crianças entre 12 e 15 anos, assim que o FDA, agência regulatória dos Estados Unidos, permitir que isso seja feito. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, já negocia a compra de milhões de doses da Pfizer e da Moderna para que não faltem imunizantes no futuro.
Com isso, o país é um dos primeiros a vivenciar a “vida pós-covid”. Na última terça-feira (20), foram registrados 113 novos casos de covid-19, entre os 9 milhões de habitantes. Viralizou nas redes social um vídeo em que israelenses tiram as máscaras e comemoram.
Brasileiros que vivem no país relatam que a sensação é, de fato, de ver uma luz no fim do túnel. Hanna Rosenbaum, 25 anos, vive em Jerusalém, em Israel, há quase dois anos. Para ela, sair na rua e ver todas as pessoas sem máscara pareceu um sonho.
“Você até esquece como era a realidade. É uma sensação de estar em outro mundo”, relata. “Foi muito difícil viver em lockdown, eram restrições muito complexas, as pessoas não podiam sair do raio de 1 quilômetro das casas, tudo estava fechado. É muito bom agora ver as pessoas andando na rua, sorrindo, restaurantes abertos, pessoas nos parques.”
“É uma sensação boa e dá até um pouco de medo, mal parece realidade. Mas hoje eu fiquei pensando o quanto sou grata de viver em um país que conseguiu vencer a pandemia.”
Mesmo vacinada e vendo a vida voltar ao normal, Hanna revela que não se sente confortável em se aglomerar ou em frequentar espaços fechados que estejam cheios. “Ainda estou vivendo muito em lugares aberto, é como me sinto confortável por enquanto”, conta
A situação para André Wajnberg, que vive em Israel há mais de 20 anos, é um pouco diferente. Guia de turismo no país, ele percebe a normalização da rotina interna do país, mas sabe que na área dele, a situação deve demorar para voltar ao que era antes.
“A verdade é que a vida em Israel, no geral, começa a voltar ao normal. Mas eu, que trabalho na área do turismo, principalmente com o público que vem da América do Sul, a normalização ainda vai levar um bom tempo”, aponta.
Preocupação com as crianças
André tem dois filhos em idade escolar e, pela limitação da idade, nenhum deles pode ser vacinado. “Como eu tenho dois filhos, é onde eu vejo mais sensibilidade. Mas, no restante, eu vejo uma normalização da situação do país em geral”, conta.
As aulas no país voltaram, mas ainda não se sabe se esse retorno terá efeitos relevantes nos números da covid-19. É justamente por causa dos filhos que André Wajnberg ainda se sente um pouco inseguro. “Não levaria meus filhos em um restaurante, mesmo podendo fazer isso”, diz. “Aí, sinto que as coisas não estão tão normais, porque tem coisas que eu não posso fazer com eles.”
As atividades com os filhos são feitas em locais abertos, com amigos que tomam as precauções adequadas.
Israel como laboratório da vacinação
Tanto Hanna quando André falam de Israel como um laboratório da vacinação. Enquanto poucos países estavam administrando imunizantes nas populações, o país foi um dos primeiros a receber um alto contingente de doses.
“Acredito que, em relação à vacinação, a ação do governo de Israel foi realmente muito efetiva, foi rápida, foi assertiva. Claro que o acordo feito com a Pfizer foi muito bom para os dois lados, Israel recebeu um grande número de vacinas, e a Pfizer também se utilizou de Israel para ver como a vacinação em massa se refletiria na população. Então, o governo de Israel se aproveitou”, diz Wajnberg.
Hanna lembra que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi um “garoto-propaganda” da vacina. “Acho que o papel dos líderes foi essencial. Bibi [Netanyahu] foi o primeiro a tomar a vacina. As pessoas estavam com medo, Israel foi um grande laboratório”, lembra.
“Sem uma liderança que incentiva a população a se vacinar, a tomar os cuidados necessários, não tem como combater a covid”, opina Hanna.
Os dois brasileiros acreditam que a política interferiu na condução da pandemia. Ainda assim, o saldo é positivo, por causa da vacinação.
André avalia que, com medidas mais baseadas na ciência que na política, menos pessoas poderiam ter morrido no país. Em Israel, 6,4 mil pessoas morreram em decorrência da covid-19.
Experiência no Brasil
Durante a pandemia da covid-19, Hanna Rosenbaum esteve no Brasil duas vezes. A sensação, descreve, foi de medo. “Em Israel, as pessoas estão sem máscara e no Brasil eu andava com três máscaras ou com a N95, foi assustador.”
“Voltei para o Brasil em dois momentos: no começo da pandemia, quando em Israel tudo estava começando a fechar e fui ficar com minha família. Fiquei assustadíssima, porque estava tudo aberto – e em Israel não tinha nada aberto.”
“E quando eu cheguei dessa vez, também. Pessoas chegando de todos os países, restaurantes do aeroporto todos abertos”, conta. Em Israel, as fronteiras seguem fechadas para o turismo e, durante um longo período, mesmo residentes não podiam entrar no país.
“Acho que o Brasil é muito negligente, se for para fazer um lockdown, que seja um lockdown de verdade, para conter a pandemia, não só por dizer”, diz.
Fonte: Yahoo Notícias