Pesquisadores brasileiros da Unesp, Universidade Paulista, descobriram dois novos alvos que, finalmente, vão tornar viáveis a criação do primeiro anticoncepcional masculino.


O foco do projeto é a EPPIN, sigla em inglês para inibidor de protease epididimária, cuja função principal é modular a motilidade dos espermatozoides, ou seja, dificultar sua capacidade de nadar até o óvulo.


O estudo também demonstra a viabilidade de usar camundongos como modelo para testes in vivo. Os resultados foram publicados na revista Molecular Human Reproduction.



Alvo é o espermatozóide


Cientistas e a indústria farmacêutica procuram desenvolver anticoncepcionais masculinos que consigam impedir a mobilidade do espermatozoide, porque é mais difícil chegar a um fármaco para impedir a produção do gameta masculino.


“O grau de complexidade da produção do espermatozoide é maior que o da produção do óvulo feminino. O processo de espermatogênese dura cerca de dois meses e ocorre de forma contínua”, explica Erick José Ramo da Silva, professor do Depto de Biofísica e Farmacologia do Instituto de Biociências de Botucatu e um dos autores do artigo científico.


“Se fosse produzido um contraceptivo masculino que impedisse a produção do espermatozoide, o medicamento demoraria de três a quatro meses para apresentar efeito a partir do momento em que um homem começasse a usá-lo”, completa.


“Com a clivagem feita pela protease PSA, o espermatozoide pode nadar, o que chamamos de motilidade progressiva, e penetrar nas camadas mais externas do óvulo, em um movimento conhecido como motilidade hiperativada”, detalha o pesquisador.


Esse processo de clivagem de proteínas pela PSA ocorre no trato reprodutor feminino, entre cinco e dez minutos após a ejaculação.


“Até o momento em que a PSA atua, o único mecanismo que está levando o espermatozoide em direção ao óvulo é a ejaculação. Ele não precisa de motilidade antes dessa etapa e por isso salva energia para percorrer todo o restante do caminho até o útero”, acrescenta.


Resultados promissores


Na pesquisa conduzida na Unesp, os camundongos receberam três tipos de anticorpos para verificar se eles se ligavam à EPPIN e bloqueavam a motilidade dos espermatozoides.


Ao se ligarem à molécula-alvo, os anticorpos mostraram em que domínios da proteína deveria haver uma intervenção para reduzir ou impedir a motilidade do espermatozoide.


Ao verificar a motilidade dos espermatozoides, foi constatada a sua redução, o que comprova que ambas as regiões apresentam inibidores de protease que regulam a motilidade e que podem ser alvo de novos fármacos.


Ou seja, a pesquisa mostrou ser possível desenhar moléculas que se liguem a essas duas regiões e não apenas à C-terminal, impedindo a mobilidade dos espermatozoides.


A pesquisa também aponta quais sequências da cadeia de 133 aminoácidos que formam a EPPIN devem ser o alvo de quem pensa em desenvolver um anticoncepcional masculino que atue na motilidade dos espermatozoides.


Por fim, ela comprova que é possível usar camundongos como modelos para testes in vivo, o que pode tornar a pesquisa pré-clínica mais simples, rápida e barata.


Agora, Ramo da Silva vai coordenar uma equipe que procurará desenhar pequenas sequências de aminoácidos capazes de se ligar à EPPIN de forma semelhante à da semenogelina e testá-los para ver se interrompem a motilidade espermática.


Para isso, já existe uma parceria com pesquisadores de Portugal e do Reino Unido.


Com informações da agê Agência FAPESP

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