Nos últimos dias, as temperaturas na superfície de algumas partes da Antártida subiram quase 30ºC acima do normal. Embora o clima ainda seja extremamente frio, os cientistas descrevem esse fenômeno como uma "onda de calor" antártica, um evento raro que ocorre pela segunda vez em dois anos e que preocupa os especialistas devido às mudanças climáticas. Esse evento extraordinário na Antártida terá impacto no Brasil.



A "onda de calor" ocorre no meio do inverno antártico, quando as temperaturas geralmente variam em torno de -20ºC, com picos de até -70ºC ou -80ºC em algumas estações. As anomalias positivas de temperatura são das mais altas do planeta, com estações na Antártida registrando temperaturas 20ºC a 30ºC acima do normal.


Desde grande parte de julho, as temperaturas estavam acima da média, mas no final do mês e no início de agosto, os desvios positivos aumentaram ainda mais, com extremos raros. A estação do Polo Sul teve o julho mais quente desde 2002, cerca de 6,3ºC acima da média, e a estação climática russa Vostok, na Antártida, registrou seu julho mais quente desde 2009, com 6,5ºC acima da média.


Causas da "onda de calor" na Antártida

As temperaturas de inverno na Antártida variam bastante devido à falta de luz solar, mas essa "onda de calor" é um desvio muito maior do que o normal. Os cientistas acreditam que isso pode estar relacionado a eventos na alta atmosfera, na estratosfera.


A estratosfera contém uma faixa de ar frio e baixa pressão que gira em torno de cada polo, conhecida como vórtice polar. Este ano, ondas atmosféricas enfraqueceram o vórtice, fazendo com que as temperaturas em alta altitude subissem em um evento chamado Aquecimento Estratosférico Repentino.


Os dados indicam que o aquecimento estratosférico repentino também está afetando a atmosfera inferior. O vórtice polar está perturbado, permitindo que o ar frio normalmente confinado perto do Polo Sul se desvie para o norte, em direção à Nova Zelândia, sul da África e sul da América do Sul. À medida que o frio escapou da Antártida Oriental, as temperaturas aumentaram drasticamente perto do Polo Sul.


Oscilação Antártica e impactos no Brasil

O enfraquecimento do cinturão de ventos ao redor da Antártida é identificado pela Oscilação Antártica, uma variável que influencia chuva, chegada de massas de ar frio e formação de ciclones no Atlântico Sul.


A Oscilação Antártica tem duas fases: positiva e negativa. Na fase negativa, o cinturão de vento enfraquece e se desloca para o norte. Estudos mostram que na fase negativa há uma maior propensão para chuva no Sul e Sudeste do Brasil. Com a Oscilação Antártica atipicamente negativa, ventos mais fracos em torno da Antártida permitirão que ar muito frio se desvie para o norte.


Modelos numéricos já indicam uma incursão de ar gelado nas latitudes médias da América do Sul no final desta semana, trazendo muito frio para o Sul do Brasil. No início da próxima semana, há chance de um segundo pulso de ar frio. Isso poderá trazer chuva para áreas do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, especialmente nos estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo.


*Com informações do MetSul Meteorologia

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