O Brasil ultrapassou a marca de 1.700 casos registrados de monkeypox, a varíola dos macacos. Conforme o mais novo boletim do ministério da Saúde, são 1.721 registros de infectados no território nacional, sendo que três em cada quatro foram detectados no estado de São Paulo.


No mundo, de acordo com levantamento feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros órgãos, foram registrados 28.220 infectados, em 2022, sendo 27.875 em países que historicamente não relataram doentes por monkeypox -- entre eles, o Brasil. E, de acordo com especialistas, há a possibilidade de o atual surto se tornar uma pandemia.


"Se o conceito da pandemia for de uma doença que se transmite nos cinco continentes de forma sustentada, que pode ter algum impacto na saúde de uma maneira geral, isso pode se tornar", pontuou a doutora em infectologia e professora da Unicamp Raquel Stucchi, em entrevista ao SBT News.


Ainda segundo ela, o número de novos casos da doença deve continuar crescendo, no Brasil e no mundo em geral, nas próximas semanas, e de forma exponencial, devido a três fatores: o período de incubação da doença -- ou seja, o tempo que vai do contato com o vírus até o aparecimento dos primeiros sintomas -- é "muito longo", ficando em cerca de 20 dias; a pessoa pode demorar para perceber que está com monkeypox mesmo quando surgem as primeiras lesões (principal sintoma) na pele, porque podem ser confundidas com espinhas ou pelos encravados, por exemplo, e, assim, transmitir a enfermidade para outros indivíduos; e falta desde o início do atual surto no mundo, em maio deste ano, orientação sobre a doença para a população em geral, para os profissionais da saúde que podem vir a atender os pacientes e para o grupo que mais vem adoecendo - homens que fazem sexo com homens e bissexuais.


Por outro lado, acrescenta, "a forma de transmissão é muito diferente da covid, por exemplo, não se transmite tão fácil assim num contato próximo respiratório, pode transmitir, mas não é a principal forma de transmissão, e felizmente a maior parte dos casos são casos bem leves e, no momento, se concentram em uma determinada população". No Brasil, foi registra uma morte provocada pela doença até o momento. No mundo, são pelo menos dez registros neste ano.


O infectologista Paulo Sérgio Ramos, chefe da área assistencial de doenças infecciosas e parasitárias do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, afirma ser "muito provável" que o surto virará pandemia.


"O crescimento do número de casos, sem possibilidade imediata de acesso ao imunizante, é um cenário bastante desconfortável. Inclusive a OMS já emitiu o alerta de emergência de saúde pública de interesse internacional", acrescentou o especialista.


A Organização Mundial da Saúde classificou a varíola dos macacos como emergência global em 23 de julho. A entidade entende como pandemia a disseminação de um patógeno em vários países ou continentes, geralmente atingindo uma quantidade grande de pessoas, mas, até o momento, não definiu o monkeypox dessa forma.


Para Ramos, os números de contaminados vem crescendo "numa velocidade assustadora, sobretudo nos países onde há maior número de viajantes e maior disponibilidade de testes, como nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Espanha". "É possível que estejamos visualizando ainda apenas uma parte dos casos, já que não entram na estatística os casos suspeitos", completa. Ele avalia que a quantidade novos casos, no Brasil e no mundo, continuará crescendo nas próximas semanas.


Ainda de acordo com o especialista, a melhor estratégia para conter o surto no território nacional "é focar no diagnóstico precoce e isolamento do caso suspeito, mitigando os riscos de espalhamento do vírus". Entretanto, pontua, "não há kits comerciais disponíveis e registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o diagnóstico laboratorial, de forma que na rede pública de saúde, esse diagnóstico vem ocorrendo através da capilarização dos laboratórios centrais (Lacen) das unidades federadas. "A rede laboratorial privada vem disponibilizando estes testes, mas, no atual cenário, já reportam necessidade de individualizar os testes devido à elevada demanda".


Ele reforça também que já existem antivirais e vacinas aprovados nos Estados Unidos, que o país tem indicado para casos mais graves, imunodeprimidos e profissionais da saúde, mas ainda previsa ser feito pedido para uso emergencial à Anvisa. Essas dificuldades, fala Ramos, "são derivadas da emergência de uma nova doença infecto-contagiosa que não tínhamos até então experimentado".


O Brasil vai importar um antiviral para tratamento de pacientes com a varíola dos macacos e espera receber também 50 mil doses da vacina contra a doença a partir de setembro.


Raquel Stucchi analisa que o país "tem tido dificuldade em lidar com a saúde pública de uma maneira geral". "Aliás, com a saúde da população de uma maneira geral. Então nós pecamos ainda na divulgação desta doença, na divulgação das formas de transmissão, em quem está sob risco, quem não está sob risco, o que fazer para não pegar e também devemos ser os últimos na fila da vacina e dos antivirais. Então isso faz com que o controle da doença fique muito mais difícil entre nós".


Tanto Raquel como Paulo Sérgio Ramos reforçam que, a princípio, qualquer pessoa pode pegar monkeypox. "Todo contato pessoal,  seja pele-pele, sexo, beijo e apertos de mão, são rotas muito oportunas para haver o contágio. A doença não está diretamente relacionada ao gênero do indivíduo nem a orientação sexual. No momento é importante provocar a conscientização da população sobre as rotas de transmissão do vírus e implementar medidas para redução de danos", explicou Paulo Sérgio. Entre essas medidas, limitação do contato pele a pele e do número de parceiros sexuais, por exemplo.


Raquel confirma as informações. Segundo ela, "só não vai pegar monkeypox aquelas pessoas que tiveram varíola, por exemplo, lá no passado, pessoas que já tiveram alguma doença provocada pela mesma família desses vírus, então essas pessoas não pegam porque existe o que a gente chama de proteção cruzada entre essas doenças da mesma família".


Fonte: SBT News

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